domingo, 18 de maio de 2008

E NADA VEM



UMA MULHER AO LONGE
PARECE CEGA DE SEDE
PARECE SECA DE TANTA PRECE
QUE NÃO VEM.
SE PODE VER O CHORO DA MULHER:
LHE UMIDECE A FACE E LHE FAZ PARAR,
CAIR SENTADA
A ESPERA DO TEMPO COM OS PÉS
DESCALÇOS
E O TEMPO NÃO VEM.
ESSA MULHER QUE TEM A FORÇA
QUE A RAIVA ALIMENTA
ESSA SEDE QUE SÓ AUMENTA
E LHE FAZ CAIR NO CHÃO.
QUASE NÃO TEM MULHER NESSA
MULHER
AGORA É QUASE SÓ A RAIVA,
MAS A SEDE É TAMANHA QUE
NEM MAIS A RAIVA VEM.

vigília


O que se pode construir,
Há de se recriar a fala e não olhar pra dor que nasce,
Fazer morrer o que há de gente na gente, não saber...
Um rumo que se constrói por entre as gretas da vontade,
Escravizar o homem ao desejo de nem saber o que há de
Perfume em todas as flores do mundo... Adulterar a própria criação
Pra fazer sorrir o que existe de humano no silêncio. Calar.
Negar a fome até que se dissipe. O choro até que finde.
Fundir até o que não é bruto na dureza das horas de sono.